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Que tal uma pausa pra comer?

Atualizado: 22 de set. de 2022

Por Luanne Caires




De segunda a sexta-feira, o cheiro do café fresco irrompe pelo corredor do escritório e aciona pequenas interrupções no tec-tec-tec dos teclados pela manhã. Quase como um ritual do meio corporativo, colegas de trabalho se entreolham e sabem que é o momento em que e-mails, telefones e relatórios podem dar espaço a um outro elemento tão importante quanto as obrigações trabalhistas: os vínculos interpessoais.


O cafezinho de cada dia não é só alimento. É também um dos marcos da comunicação informal nas organizações. É quando se aprende o jeito de o outro rir despreocupado, contar uma piada ou chorar umas pitangas, daquelas que não são comestíveis. Maarit Valo e Leena Mikkola, pesquisadoras de universidades finlandesas na área de comunicação organizacional, destacam em seu livro Workplace Communication (Comunicação no Ambiente de Trabalho), publicado em 2020, que por muito tempo a comunicação informal foi vista como negativa pelas empresas, por representar a famosa rádio-peão. Hoje, ela é considerada fundamental para o senso de pertencimento a uma equipe ou a uma identidade institucional.


E não só de informalidade é feita a conversa acompanhada por uma xícara de café ou por um bom prato de comida. Algumas empresas possuem cafés da manhã periódicos com gerentes, presidentes e clientes como um dos veículos de comunicação formal — uma maneira de discutir negócios e os rumos organizacionais com uma abordagem mais direta e intimista a la Chico Buarque: olhos nos olhos.


Para Guilherme Vicente, coordenador comercial no iFood, empresa que controla cerca de 80% do mercado de gerenciamento de entrega de comidas e bebidas no Brasil, os benefícios das refeições compartilhadas, sejam elas formais ou informais, estão ligados ao ambiente. “Você consegue chegar em conversas para as quais dificilmente teria tanta abertura dentro de uma sala de reunião mais quadrada”.


A afirmação vem com a experiência de quem geriu uma equipe de 24 pessoas, em regime de trabalho remoto durante a maior parte da semana. Às seis horas da tarde das quintas-feiras, dia de trabalho presencial, a equipe se reunia na área de lazer da empresa, para o abrir e fechar de portas da geladeira de cerveja. Independentemente de quantos cafés haviam sido tomados antes ou depois do almoço, aquele era o momento do happy hour, uma modalidade diferente de integração.


As diferenças residem, por exemplo, no grau maior de desconexão com o trabalho, se comparado à rapidez do cafezinho, e também na tendência de o happy hour reunir mais pessoas e equipes. Essa ampliação da informalidade e do círculo social é um dos pontos fortes citados por Thaiany Dominelli, analista de inteligência competitiva no Grupo Boticário e adepta dos happy hours como um espaço de “conforto e segurança”. Por essas e outras, o “confraternizar”, não por acaso, é um dos serviços mais procurados no ramo de alimentação em eventos corporativos, especialmente no fim do ano, como comenta Thyago Figueiredo, do Buffeteria Eventos.


Mas o segredo para que esses momentos sejam de fato integradores reside nas próprias empresas: um espaço de confiança, liberdade e acolhimento para que todos se sintam confortáveis depende da cultura organizacional. Só assim o cafezinho, o almoço ou o happy hour não se tornam mais uma obrigação do trabalho nem uma fonte de ansiedade, mas sim uma oportunidade de criar e reforçar vínculos com as pessoas com quem se compartilha objetivos, projetos e, às vezes, a maior parte do dia.

Arte: Adrielly Marcelino e Jorge Fofano.

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