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Saborear é sair da monotonia

Atualizado: 22 de set. de 2022

Por Luisa Costa



Comer não se trata de ingerir um pacotinho de energia: é uma experiência sensorial que pode (e deve) fazer bem para o corpo e para a mente. Mas isso pode ser difícil para quem fica sempre com os mesmos sabores e texturas.


Quem é ruim de garfo pode sofrer com a neofobia alimentar – literalmente um medo de alimentos novos. Trata-se de uma resistência individual em comer ou experimentar novos sabores, muito comum entre crianças (para quem grande parte das comidas são novidade, afinal) mas que pode permanecer em adultos, que geralmente ficam taxados como “chatos para comer”.


As causas para o comportamento alimentar podem ser até genéticas. Pais com neofobia alimentar podem passar para frente essa aversão, e variações do gene TAS2R38 podem fazer com que alguém sinta com mais intensidade os sabores amargos – e, torcendo o nariz para eles, mantenha uma dieta mais limitada.


Este sabor é mais rejeitado por questões evolutivas: para fugir de substâncias tóxicas, nossos ancestrais desenvolveram uma aversão inata por sabores amargos e texturas irritantes, e uma preferência por sabores doces e texturas gordurosas. Por isso é tão comum encontrar quem não goste de vegetais e alimentos amargos no geral.


Mas há quem fique na monotonia alimentar por outra questão: o próprio acesso à comida. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Fome e a Agricultura, hoje três em cada dez brasileiros sofrem com algum nível de insegurança alimentar – desde não ter certeza sobre a capacidade de conseguir comida a passar fome por dias. Aí, diversificar a dieta, claro, não é uma possibilidade.


Acontece que, para comer bem, é importante comer de tudo e seguir a clássica recomendação dos nutricionistas de montar pratos coloridos. A monotonia alimentar traz perdas para o prazer envolvido nas refeições e para o bem estar do corpo: dietas limitadas (pela aversão ou pela falta de acesso) podem contribuir para carências ou excessos nutricionais – quando relacionada, por exemplo, ao consumo de alimentos hipercalóricos, ricos em açúcares e gorduras.


Colaboraram:

Camila Garcia, especialista em Saúde e Nutrição Infantil pela Unifesp;

Helena Previato, doutora em Alimentos e Nutrição pela Unicamp;

Livro Ciência do Comportamento Alimentar, editora Manole, 2021.


Arte: Adrielly Marcelino e Jorge Fofano.


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