A mobilidade inconsciente
Pedro Ferreira
Olhos fechados. Respiração sutil. Corpo imóvel. As referências que podem
facilmente ser associadas a uma pessoa dormindo também compõem um quadro
de inconsciência mais profundo e ainda misterioso, o coma.
A condição é caracterizada pela perda prolongada da consciência e a ausência de
resposta a estímulos do ambiente. Ele é um estado que evidencia lesões estruturais
ou não estruturais do Sistema Nervoso Central decorrentes de traumas, Acidentes
Vasculares Cerebrais (AVCs), tumores, inflamações e outras condições.
Apesar de poder acontecer de forma natural, o coma também pode ser induzido
através de fármacos para preservar a região afetada. O Dr. Wagner Tavares,
neurocirurgião do Hospital das Clínicas da FMUSP-SP, conta que o objetivo dessa
abordagem é reduzir o funcionamento dos neurônios para poupá-los de atividade
em situações que demandam repouso do cérebro.
Esse foi o caso de Jaine Silvestre, profissional de Recursos Humanos. Por ter tido
complicações após uma cirurgia, teve uma infecção generalizada e foi induzida à
condição. Ela conta que, enquanto estava desacordada, sabia que estava em um
hospital, mas não lembrava o motivo. A sua inconsciência foi tragada por pesadelos.
Em sua mente, as enfermeiras tentavam matá-la queimada ou afogada, e era
perseguida a todo instante. Tudo isso sentido vividamente por ela, mesmo
desacordada.
Duas semanas se passaram. Ela ouvia sua família falando com ela, mas não
conseguia responder. Aos poucos foi retomando a consciência até despertar,
confusa com o que havia acontecido e com quanto tempo havia se passado.
Segundo Tavares, é comum que pacientes percam a noção temporal durante o coma
e acordem confusos. Na grande maioria dos casos, eles não se lembram de
qualquer coisa.
Para Jaine, o estado de coma foi um intenso processo espiritual e psicológico. O
tempo que passou desacordada na verdade despertou nela um senso de gratidão e
uma nova ótica para enxergar o mundo. Ainda que imóvel e inconsciente, o tempo
passa e a vida continua.
Colaboraram:
Jaine Silvestre, profissional de Recursos Humanos
Wagner Malago, neurocirurgião do Hospital das Clínicas da FMUSP-SP
Comments