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A arte da retranca e dos placares magros

Atualizado: 20 de out. de 2020

O futebol defensivo pode não ser tão vistoso, mas é um caminho para a vitória

Arte: Bianca Muniz; fotos: Pixabay, Freepik


Muitas vezes, jogar defensivamente é a única maneira de derrotar um adversário poderoso e cheio de craques no futebol, em uma típica batalha de Davi contra Golias. Contudo, essa não é uma tarefa fácil: os jogadores devem se comportar como peças em um tabuleiro de xadrez, fechando todos os espaços do campo e resistindo para que o adversário não crie oportunidades de gol.


Os zagueiros ficam postados de forma mais recuada, como cães de guarda entre os laterais, que, como o nome sugere, ocupam os lados. Já os meias e atacantes ocupam espaços mais à frente para dificultar a armação de jogadas do oponente. Enquanto isso, o goleiro fica embaixo das traves como o último bastião defensivo, responsável por jogar um balde de água fria no atacante adversário.


Esse estilo de jogo, se bem executado, é eficiente, mas não costuma agradar. Qualquer um que vê uma partida espera muitos gols, dribles e lances bonitos. No entanto, quando um dos times joga na retranca com todos na defesa, é comum que a partida termine sem gols ou com uma vitória magra de 1 a 0 para algum dos lados.


Porém, quem opta pelo jogo defensivo não está preocupado em dar espetáculo, e sim em vencer. Por isso, essa estratégia geralmente é adotada por equipes mais fracas em uma tentativa de resistir e derrotar oponentes mais fortes.


Ainda assim, a consagração de um time retrancado é possível, “mesmo que não seja tarefa fácil e dependa de resultados”, conta Celso Unzelte, comentarista esportivo da ESPN.


A Itália, em 2006, ganhou a Copa do Mundo jogando dessa forma. A equipe atuou de modo equilibrado durante o torneio, mas na final, frente ao elenco francês recheado de estrelas, se viu forçada a formar uma muralha defensiva. Com nomes como Cannavaro único zagueiro a ser eleito melhor jogador do mundo pela Fifa — e Buffon, eleito melhor goleiro da competição, a seleção sufocou o adversário e conquistou o tetracampeonato mundial.


Mais recentemente, pode-se citar a conquista da Libertadores da América pelo Corinthians em 2012, de forma invicta, tendo sofrido apenas quatro gols em 14 jogos. Como conta Unzelte, o clube era traumatizado com a competição por seu histórico de derrotas, e o divisor de águas para que a equipe acreditasse no título foi justamente uma defesa do goleiro Cássio.


Nas quartas de final do torneio, o time enfrentou o Vasco. O placar estava empatado, até que um erro de passe crucial por parte do Corinthians quase pôs tudo a perder. Os segundos que seguiram o lance pareceram uma eternidade para os 35 mil torcedores no estádio do Pacaembu. Enquanto isso, o atacante do time carioca, sozinho, carregava a bola em direção ao gol. Quando ele chutou, tudo já parecia perdido, mas Cássio fez uma importante defesa com a ponta dos dedos e manteve o time no páreo.


Daniel Teixeira, torcedor do Corinthians, viu o lance da arquibancada do estádio. Ele ainda lembra da emoção: “o estádio explodiu em alegria, foi como se tivesse sido marcado um gol”.


Defesa fraca, cobrança forte


Mas como esse estilo não é o mais vistoso, quando os resultados não vêm, as críticas são fortes. Após fraco desempenho em 2019, o que o técnico do Palmeiras mais ouviu foram gritos de “Fora Mano Menezes” e “retranqueiro” por parte da torcida. O resultado foi sua demissão após apenas três meses de trabalho.


Como explica Danilo Benjamin, treinador com passagens por clubes como Athletico-PR e Coritiba, “é mais complicado construir uma parede do que a destruir”. Por isso, o sucesso no futebol é muito atrelado a um jogo bonito e ofensivo, como o do Santos de Neymar, que conquistou diversos títulos entre 2010 e 2012 goleando boa parte de seus adversários.


Mesmo com essa cobrança por ofensividade e gols, o estilo defensivo ainda traz muitas alegrias. Uma vitória sofrida costuma ter um sabor muito bom para o torcedor.

 

Colaboraram:

Daniel Teixeira - Torcedor do Corinthians que estava no estádio do Pacaembu no jogo entre Corinthians e Vasco válido pelas quartas de final da Libertadores da América em 2012.

Celso Unzelte - Jornalista e comentarista esportivos dos canais ESPN

Danilo Benjamin - Treinador e analista de desempenho de futebol, com passagens por clubes como Athletico-PR, Guarani e Coritiba.

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