Por Mariana Cotrim
Arte: Gabrielle Yumi (produção) e Renan Sousa (planejamento)
Se hoje vamos a um clube noturno, é comum presenciar casais se formando, além de carícias e beijos sendo trocados em público. Mas há 60 anos, uma cena como essas seria inimaginável para Zélia Gomes, 77 anos. Para seus pais, namoros expostos contrariavam a ideia de “andar na linha”.
Essa expressão ainda é presente entre jovens de hoje e, assim como antes, ela denota regras, naturais para qualquer interação social. Contudo, a ligação com valores de uma geração faz com que a definição do “andar na linha” mude entre famílias. Se para Vivian Dias, 17 anos, pode ser lutar pelo seu futuro, para Edite Pestana, da mesma geração de Zélia, usar uma minissaia extrapolava o limite imposto pela época. E mais, se sair da linha não era nem uma opção para Raimundo Gomes, hoje com 85 anos, jovens atualmente consideram esse ato essencial para adquirir experiências, como para Giovanna Rocca, 17 anos.
A psicóloga Daniela Daleffe, especialista em análise do comportamento, aponta a importância do equilíbrio entre o “sair” e o “andar” na linha. Segundo ela, sendo a expressão variável em diferentes grupos sociais, uma pessoa que se atenta rigidamente a um tipo de regra imposta pode ter dificuldades para se adaptar a outro ambiente.
Quando se fala em regras, os contextos sociais e culturais também são importantes para a definição do certo e errado, e a contestação desses valores contribui com a mudança dos limites na sociedade. Essa reavaliação foi mais visível no Brasil a partir de 1950, com a Contracultura e a Revolução Sexual. No mesmo período do golpe militar, jovens de diferentes movimentos contestavam o que era visto como retrógrado.
Assim, enquanto colégios brasileiros proibiam o uso de minissaias e mulheres causavam espanto ao usá-las, passeatas feministas como o Women’s Liberation Movement ganhavam corpo, principalmente nos Estados Unidos. Esses atos possibilitaram o uso da vestimenta sem que mulheres precisassem se esconder, como fazia Edite quando saía, e permitiram uma mudança nos valores que rodeiam hoje Vivian e Giovanna em suas decisões sobre o futuro.
Essa ampla contestação dá a Zélia a ideia de um momento atual menos rígido. Isso permite que Giovanna, por exemplo, não fique presa somente ao que é considerado certo ou errado, mas também às experiências que compõem sua vida. Também dá abertura à discussão de Daniella, sobre como o equilíbrio entre o excesso de regras e as infrações são importantes para o desenvolvimento social.
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Colaboraram:
Daniela Daleffe, psicóloga formada pela PUC-Campinas. Atua com psicoterapia infantil, de adolescentes e adultos e dedica-se a grupos de estudo e supervisão em Análise do Comportamento;
Natália Cristina Batista, pós-doutoranda no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e doutora em História Social pela Universidade de São Paulo. Pesquisadora do Grupo de Autoritarismo e Resistência e membro do núcleo de História Oral da UFMG;
Orivaldo Leme Biagi, doutor em História pela Universidade Estadual de Campinas, coordenador do curso de Direito do Centro Universitário UNIFAAT.
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