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Pilotando na ponta dos dedos

Atualizado: 24 de set. de 2020

Por Caio Mattos e José Carlos Ferreira


Arte: Gabrielle Yumi (produção) e Renan Sousa (planejamento)


Pouco tempo faltava para pousar em Buenos Aires em um dia de céu aberto em 1988. O sinal para que os passageiros afivelassem os cintos acabara de apitar. Então, uma súbita turbulência chacoalhou o avião, um Airbus A300.


De tanto tremor, o copiloto, Ricardo Giorgi, não avistava nada no painel de controle. Mas, por estar a baixa altitude, apenas 2100 metros, o melhor era esperar o fim da turbulência.

Após “10 segundos de uma eternidade”, a aeronave se estabilizou e pousou sem nenhum ferido. Hoje comandante, Giorgi nunca se esquece dos conselhos de seus instrutores: “Ricardo, pilote na ponta dos dedos” e deixe o avião se estabilizar.


O professor de projeto de aeronave Adson Agrico De Paula, do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), concorda com os instrutores e explica que as aeronaves comerciais, como o Airbus A300, são projetadas para que “o piloto trabalhe o mínimo possível”.


Dentre as características do avião que contribuem para sua estabilidade, De Paula destaca o desenho da cauda. Essa estrutura, com formato de “T” invertido, regula a aeronave em caso de rajadas de vento.


Como ilustra Giorgi, “se o avião pegar uma corrente de ar que levante a parte da frente para cima, eu não preciso fazer nada para que ele volte a voar reto assim que a corrente passar”.

O professor do ITA também esclarece a importância do piloto automático, software que mantém a altura e a velocidade da aeronave constantes e, logo, em equilíbrio durante grande parte do voo.


No trajeto São Paulo-Paris, por exemplo, o piloto automático entra em ação quando o avião passa pelo Rio de Janeiro para sair de cena apenas na capital francesa, pouco antes do pouso.

O fator que “mais interfere” na estabilidade da aeronave, segundo Giorgi, é a turbulência, espécie de redemoinhos no ar que podem ser causados por diversos fatores, como as nuvens.


Medo de voar


O piscar do sinal de “apertem os cintos” e o primeiro balanço do copo de água na bandeja da frente já aceleram o coração da estudante Júlia Ricci, que assume o medo de voar.

A estudante não é exceção. A maioria das pessoas compartilham esse pavor, diz a ex-comissária Ana Paula Nadine. Afinal, elas se sentem indefesas: “Se algo der errado, não dá para sair no ‘próximo ponto’”.


Para retomar o “controle” durante uma turbulência, Ricci desenvolveu uma técnica: ela olha para os outros passageiros que, estando tranquilos, possam inspirá-la.

De fato, turbulências podem ser severas. Nadine lembra de um caso em 2002, quando carrinhos de petiscos foram arremessados e 16 passageiros se feriram, nenhum estava com o cinto afivelado.


Mas, normalmente, como no voo de Giorgi em 1988, elas não vão além de alguns copos de cristal quebrados na primeira classe. Além do mais, todo voo quase sempre está sob turbulência, lembra Nadine. Na maior parte, ela é suave como o balanço de um berço: “É bom para dormir”.




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Colaboraram: Ricardo Giorgi, comandante de avião comercial. Adson Agrico de Paula, engenheiro aeronáutico e professor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica. Júlia Ricci, estudante de educação física. Ana Paula Nadine, ex-comissária de bordo. Alvaro Martins Abdalla, engenheiro aeronáutico e professor da Escola de Engenharia de São Carlos da USP

Gustavo Mata, estudante de relações públicas. Naiady Moura, estudante de arquitetura


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