Mas… por quê?
- clarousp
- 19 de mai. de 2020
- 3 min de leitura
Protegida por lei, a curiosidade é fundamental para o desenvolvimento da criança
Por João Gabriel Batista e Thaislane Xavier

Arte: Guilherme Roque
Por que crianças são tão curiosas?
Não coloca isso na boca!
Larga isso!
Porque sim!
Você já deve ter ouvido, ou falado, algumas dessas frases a uma criança. Apesar de a curiosidade ser uma característica humana, nem sempre os mais velhos têm paciência quando as crianças começam a descobrir aquilo que as cerca. Elas parecem tão mais curiosas que os adultos e tão ávidas por entender tudo que esgotam as outras pessoas. Mas de onde vem todas as suas perguntas e a vontade de explorar?
Sylvia Maria Ciasca, neuropsicóloga, explica que “a curiosidade vem da quantidade de coisas que a criança tem a aprender e isso diminui ao longo da vida porque o adulto conhece muita coisa, enquanto para a criança tudo é novo”.
E por quais fases elas passam?
Nesse período, o cérebro infantil está em expansão e as crianças adquirem cada vez mais abstração. Ou seja, “passam de movimentos muito concretos, como pôr tudo na boca, e vão para outros mais abstratos, como entender o porquê”, explica Ciasca.

Arte: Guilherme Roque
É importante deixar que cada criança viva seus processos de aprendizagem no seu tempo. Também é preciso ter um olhar atento e fornecer ferramentas para que elas se desenvolvam da maneira correta: oferecer objetos e brincadeiras, mantê-las motivadas e responder com atenção seus questionamentos.
Passar por cada uma das fases é importante, pois elas representam aprendizados únicos. “Os neurônios vão criando interconexões entre essas informações e formando uma rede de conhecimentos que são essenciais para o resto da vida”, continua Ciasca. Além disso, a curiosidade é o que move na busca pelo conhecimento, forma indivíduos autônomos, críticos e esclarecidos, e não há desenvolvimento sem os aprendizados por ela propiciados.
Poder fazer perguntas é lei?
No entanto, é de se perguntar: todas as crianças de fato têm o direito de ser curiosas? Para Ana Cláudia Torezan, professora de Direito da Universidade Mackenzie e especialista em direito da criança e do adolescente, o ato de perguntar está muito ligado ao desenvolvimento infantil. Primeiramente, ela lembra que o Brasil é signatário da Convenção sobre os Direitos da Criança.
Organizada pela Unesco, a convenção firmou o compromisso de eliminação da ignorância. Já no âmbito nacional, temos o Artigo 227 da Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente. Juntas, essas leis garantem aos menores de 18 anos o direito de se expressar e opinar.
Ana Cláudia ressalta que “a criança deve ter seu questionamento respeitado não à luz de uma visão adultocêntrica, ou seja, daquilo que nós consideramos importante, e sim à luz do que é importante para ela.” Por fim, ela explica que, pelo viés legislativo, a criança é sempre vista como um sujeito de direito em desenvolvimento. “Esse desenvolvimento é calçado por sua autonomia e independência, sem deixar de considerar sua vulnerabilidade.” Isso significa dizer que, diferente dos adultos, a criança está em processo de formação, o que lhe garante outro olhar perante às leis. É isso o que está por trás, por exemplo, da maioridade penal ou da proibição do casamento infantil. Afinal, como diz a professora, “a criança não é um mini-adulto.”
Colaboraram:
Ana Carolina Gomes Bueno, psicóloga com pós em andamento em pedagogia
Maria Letícia Nascimento, pedagoga, mestre e doutora em educação, com pesquisa e trabalho voltados para a educação infantil é também professora na Universidade de São Paulo
Renata Weffort, doutora em educação especialista em Educação Infantil, com experiência como professora e coordenadora pedagógica
Silvia Helena Vieira Cruz, doutora em psicologia escolar e do desenvolvimento humano e professora da Universidade Federal do Ceará
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