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Sem tato, com prazer

Por Ana Beatriz Rodrigues e João Mello


Arte por Amanda Mazzei e Luana Benedito

No século XX, Sigmund Freud entendeu que o prazer é a força motriz de parte de nossas mentes. O ser humano buscará pelo prazer, independentemente da situação. Quando não é satisfeito, somos levados a um estado de angústia e tensão. Em 2003, Rita Lee dizia: "Amor é divino, sexo é animal; amor é bossa-nova, sexo é carnaval".


Em 1992, Madonna cantava "Erótica, romance/ Eu gostaria de te colocar em transe/ Coloque suas mãos por todo meu corpo".

O pai da psicanálise e a rainha do rock não poderiam prever a pandemia de coronavírus, nem como ela nos privou dos prazeres de carnaval. Mesmo assim, a quarentena não significou o fim dos desejos. O sexo à distância (ou, como chamaremos, SAD) permitiu o encontro de segundas intenções isoladas entre si, graças às trocas de nudes, sexting e chamadas de vídeo.


Antes, eram as cartas eróticas. Quando escreviam sobre suas genitálias e marcavam seus próximos encontros extraconjugais, D. Pedro I e a Marquesa de Santos se chamavam de "Fogo Foguinho" e "Titília". Mais de cem anos depois, os telefonemas possibilitaram histórias como o Tampongate, em que uma conversa vazada revelou que o Príncipe Charles fantasiava sobre ser o absorvente interno de sua então amante, Camilla Parker-Bowles.


O tesão supera quaisquer distâncias.

A internet e os smartphones tornaram as possibilidades infinitas. O SAD pode começar com uma mensagem insinuante ou uma foto ousada. A brincadeira entra em ambientes nos quais o sexo está "banido", causando apreensão ou excitação. Pode começar de manhã, embora a pessoa desejada só vá ser encontrada depois do expediente.


Para os relacionamentos à distância, pode ser um recurso para manter a intimidade. É o caso de Marisa, cuja namorada mora em outro estado. Para ela, a prática potencializa a falta que o contato físico faz para o casal.


Às vezes, o SAD vale uma ida rápida ao banheiro do escritório.

O sexólogo Rodrigo Torres explica que sexo é a associação do prazer com o erotismo. Mesmo sem os outros sentidos, o SAD mantém a visão e a audição, suficientes para ativaros mecanismos neurofisiológicos da excitação. "A sexualidade é uma dinâmica bio-psico-socio-cultural-espiritual, portanto passa por várias facetas do ser humano, e não dá para instituir normas."


É essencial viver sua sexualidade, da forma que quiser.

Para Carla, a intimidade ajuda a evitar um "climão" — como quando uma das partes faz uma brincadeira em que a outra não embarca. Por isso, há quem prefira reservar o SAD à relacionamentos mais sérios.


E o depois? As reações variam — há quem tenha sensações positivas, de prazer e intimidade. Outros sentem uma ressaca moral, que pode ser causada por quebra de expectativa, uma atitude desconfortável ou a ausência de uma ligação no dia seguinte. Luiza afirma que, durante todas as vezes que praticou o SAD, sentiu algum tipo de culpa, que ela atribui ao fato de o machismo na sociedade acabar podando as manifestações da sexualidade feminina.


Na hora do "vamos ver", a ressaca moral pode ficar para depois.

Torres reflete que não aprendemos a sentir a própria pele, a entender o estímulo que isso pode gerar em um contexto erótico. "Estamos em uma cultura falocêntrica, da penetração, do genital, e o sexo poderia ser muito mais complexo se usássemos o corpo inteiro." O sexólogo complementa que não é preciso haver outra pele para aprender a sentir a própria e, quanto mais isto é exercitado, mais poderá ser levado para uma relação e tornar melhor a conexão com o outro.


Usar a boca pode trazer um elemento a mais na história.

 

Colaboraram:

Rodrigo Torres, psicólogo, sexólogo, professor de pós graduação e supervisor clínico, é Máster em Sexologia Clínica e Saúde Sexual pela Universidade de Barcelona.

Marisa, Carla e Luiza são nomes fictícios, criados para preservar o nome das fontes que não quiseram se identificar.








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