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Coisa de homenzinho

Por Edson Junior e Natasha Teixeira


Arte por Amanda Mazzei e Luana Benedito

Imagine uma cena de filme em que uma pessoa está chorando por amor.


Eu aposto que, mesmo sem eu ter citado gênero, você imaginou uma mulher. Calma, não significa que você seja machista. Essa associação provavelmente aconteceu devido a um estereótipo masculino que está enraizado na nossa sociedade.


A ideia de masculinidade costuma vir associada à força, violência e imprudência, quase nunca a emoções como tristeza. Realmente, é menos comum ver homens chorando ou expressando emoções, inclusive na vida real. Mas será que o homem é naturalmente menos emotivo, ou ele é condicionado a isso?


“Não chore, não chore”, em inglês.

Socialmente, existe a ideia de que ser homem é mensurável: é possível ser “mais homem” ou “menos homem”, a depender do seu comportamento. Somando isso a um machismo que inferioriza a feminilidade, obtém-se um ideal inalcançável de homem, que nega tudo que remete ao feminino.


Na infância, meninos são criados com brincadeiras, vestimentas e comportamentos que se baseiam nesse ideal. A psicóloga Carolina Marroni explica que, desde muito cedo, eles aprendem que não podem chorar, falar sobre seus sentimentos, demonstrar afeto e carinho; e que devem competir, ser fortes e agir violentamente.


Muitos homens sofrem repressão na infância por não gostarem de atividades consideradas masculinas, como o futebol.

Essa pressão social é ainda pior para homens transsexuais. Como explica o arqueólogo Shay de los Santos, os homens trans precisam, muitas vezes, aderir a uma masculinidade não saudável para que sejam considerados “homens de verdade” pela sociedade.



O problema é que, por mais que alguns tentem, é difícil para qualquer homem performar o papel de virilidade por muito tempo. Por isso, em diferentes momentos da vida, acabam se sentindo inseguros e frustrados em relação à sua própria masculinidade, reforçada pela família e pelos colegas o tempo todo, como aconteceu com Fernando de Castro na adolescência.



Segundo pesquisa da Associação Norte-Americana de Psicologia, 80% dos homens estadunidenses possuem alexitimia, que é a dificuldade ou incapacidade de expressar suas emoções. Carolina Marroni acredita que, devido aos estereótipos de masculinidade, o indivíduo se sente impedido de ser quem ele realmente é, pois suas características passam por um filtro de aceitação.


Esses sentimentos e características reprimidos podem se traduzir em comportamentos agressivos. Renan Gomes, especialista em gestão de pessoas, explica que, no caso de homens cis heterossexuais, sempre houve uma tentativa de exercer uma dominação sobre minorias, e essa agressividade tende a se voltar contra aquelas que têm características mais femininas, como as próprias mulheres ou LGBTs afeminados.


Além disso, por uma necessidade de reforçar constantemente sua virilidade, homens são mais suscetíveis a brigar entre si.



Ao passar por uma autorreflexão, há homens que desejam mudar essas questões. Flávio Natal é psicólogo e vê a terapia e auto-análise como caminhos fundamentais para que se repense sua própria masculinidade. Um dos motivos para escolher a profissão veio a partir de suas experiências pessoais com masculinidade tóxica.


Cada vez mais, homens vêm aderindo à maquiagem como forma de expressão contra os padrões impostos desde suas infâncias.

Além disso, atualmente, o debate vem crescendo em grupos de estudos e na internet. Edson Castro, criador do canal do YouTube sobre comportamento masculino “Manual do Homem Moderno”, acredita que um dos caminhos para refletir sobre o problema é por meio do diálogo. Afinal, conversar com pessoas próximas sobre padrões de masculinidade pode ser um ponto de partida para que cada homem entenda como isso o afeta.



 

Colaboraram:

Carolina Marroni, psicóloga

Edson Castro, criador do canal do Youtube “Manual do Homem Moderno”

Fernando de Castro, dentista, 46 anos

Flávio Natal, psicólogo, 26 anos

Lucas Bitencourt, estudante, 24 anos

Renan Gomes, especialista em gestão de pessoas

Shay de los Santos, arqueólogo


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