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Bullying: a dor do diferente na infância

Atualizado: 7 de out. de 2021

As marcas da violência reiterada contra crianças consideradas diferentes viram cicatrizes dolorosas – mas elas podem ser evitadas.


Por Ana Beatriz Garcia e Suzana Petropouleas

Arte por Bruna Irala e Mayara Prado

A violência contra crianças consideradas “estranhas” pode deixar marcas profundas. Foi o caso de João*, que sofreu bullying na infância por sua orientação sexual. O trauma dificultou sua auto-aceitação e refletiu-se em uma necessidade de construir personagens, em busca da aprovação alheia. A experiência também lhe rendeu um Transtorno Obsessivo-Compulsivo grave, com o qual lidou por anos.


“O bullying dita muito dos valores e da personalidade futura da vítima”, explica Gabriela Lask, professora do Infantil. A agressão pode assumir muitas formas: é a criança zombada nos corredores por suas roupas ou ridicularizada nas redes sociais, por exemplo. Também pode ser silenciosa, quando a vítima é excluída pelos colegas, e praticada até por professores, como os que reproduzem apelidos sobre traços étnicos de alunos. “A criança está criando seu chão, sua autoestima. Cresce como alguém que não pertence, o que se reflete em outras esferas”.


Essa luta para se adaptar ao convívio com o outro foi exposta por Freud em “O Mal Estar da Civilização”, lembra a psicanalista Beth Coimbra. Ela recebe pequeninos no divã para tratar os efeitos do estranhamento do ambiente escolar, tão coletivo e heterogêneo. Crianças consideradas “diferentes” pela cor ou sexualidade, por exemplo, são alvos recorrentes de violência porque suas particularidades são vistas como falhas por quem promove o bullying – que, segundo Coimbra, aumentou recentemente.


“Há um clima de mais intolerância. E o bullying envolve ameaças, opressão e autoritarismo, mas ele comunica algo sobre quem o promove: o pavor do que há de diferente ou imperfeito dentro de si mesmo”, diz.


E quando a família reforça a intolerância? Ana Gabriela Faversani, professora do Fundamental I, atribui à escola o papel de assumir posição condizente com a esfera pública: embora haja famílias com opiniões diversas, a instituição deve tratar qualquer agressão como inaceitável, de forma clara, persistente e consistente.


A abordagem pode assumir a forma de sensibilização sobre o preconceito e reorganização das crenças. Para os educadores, a escola também deve garantir que as crianças convivam com a diversidade e incentivar a compreensão de que todos somos diferentes.


Esses cuidados são especialmente importantes no atual contexto, diz a psicopedagoga Telma Pantano, em que crianças retornam ao ensino presencial fragilizadas pelo isolamento e ansiosas para serem aceitas. O stress da pandemia, porém, tende a tornar professores e alunos menos tolerantes.


Por isso, o desenvolvimento das competências socioemocionais é essencial, ressalta o psiquiatra Celso Lopes. Em uma turma que atendeu recentemente, por exemplo, os alunos tinham facilidade de criar conexões e “panelinhas”, mas praticavam bullying contra os outros grupos. Descobriu-se que 40% tinham a empatia pouco desenvolvida, que foi praticada através de exercícios como a escuta ativa, em que ouve-se o que o outro tem a dizer com atenção, sem julgamentos ou pensar na resposta pretendida.


*João é um nome fictício.


 

Colaboraram:


  • Ana Gabriela Faversani, professora assistente do Fundamental I no Colégio Equipe.

  • Beth Coimbra, psiquiatra, psicanalista de criança e adolescentes e membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo.

  • Celso Lopes, médico psiquiatra pela UNIFESP e co-criador do programa Semente, que desenvolve o ensino de habilidades socioemocionais para prevenção do bullying nas escolas.

  • Gabriela Lask, professora do fundamental I no Colégio Equipe.

  • Jaqueline Landim, professora do ensino infantil na EMEI Armando de Arruda Pereira.

  • João*, vítima de bullying na adolescência ('João' é um nome fictício).

  • Patricia Della Posta, coordenadora na EMEF João Carlos da Silva Borges.

  • Tania Pantano, psicopedagoga do Serviço de Psiquiatria da Infância e Adolescência do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

  • Victoria Lopes, professora do fundamental I da Rede Decisão - Unidade Mooca.

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