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O triunfo do ciclista

Atualizado: 24 de set. de 2020

Por Hugo Vaz


Arte: Gabrielle Yumi (produção) e Renan Sousa (planejamento)


Ninguém contou, mas você sabia. Pedalar sobre duas rodas era o salto para um novo plano de existência. Chega de ser criança, esse estágio intermediário onde só enxergamos o que ainda não somos. Abaixo a ditadura das rodinhas de apoio! Ninguém contou, mas você sabia. De algum modo, crescer estava relacionado a encontrar seu equilíbrio em cima de uma bicicleta.


E assim você começou — balançando como uma minhoca desnorteada.


Mas foi melhorando. Enquanto os amigos mais experientes diziam que pedalar rápido era o segredo, alguns palpiteiros diziam para ir o mais devagar possível. Os cientistas diziam que a chave estava no posicionamento estratégico da roda dianteira em relação ao eixo de direção

inclinado. E sua mãe dizia para ter cuidado.


Quem encontrou a resposta para esse impasse foi seu corpo. Equilíbrio, ele decidiu, nada mais é que a média perfeita entre cair e não cair. E ciclismo nada mais é que fazer incontáveis pequenas correções na sua trajetória sem precisar pensar. Tão natural quanto sentir. Tão prazeroso quanto ser. Tão fácil quanto… andar de bicicleta.


É na infância e no início da adolescência, entretanto, que um tombo pode significar muita coisa. Muito mais do que se pode antever. Alguns de seus amigos caíram sem que houvesse alguém ao lado para ajudá-los a se reerguer. Entre os adultos que deviam ensinar, tantos não puderam, porque também haviam caído. Tiveram medo e nunca mais montaram. Você teve sorte.


Você cresceu e ganhou o chão. A percepção aguçada das nuances e dos desafios do asfalto. Ganhou a cidade: as praças, os monumentos, as pichações, as pessoas. A capacidade de viajar sozinho quando quiser, ou quando ninguém mais quer. Uma atividade física para os momentos de alegria, tristeza, ou nada em particular.


Ganhou algo em comum com os outros ciclistas. O garoto que aprendeu a pedalar na rua de paralelepípedos e adorava como eles faziam sua cabeça balançar. O executivo que antes de largar o carro só tinha partida e destino, mas descobriu o percurso. A entregadora de aplicativo na sua primeira semana de trabalho, que agora corre atrás de uma nova independência.


E não é incrível? Tudo porque um dia você conquistou o equilíbrio de uma bicicleta.




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Colaboraram: Claudia Franco, instrutora de pilotagem de bicicleta na empresa Ciclofemini; Emerson Pereira, André Balbino e Yasmin Reis, ciclistas amadores.



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