Por André Amorim e Victor Aguiar
Quando a vida se encarrega de impor distâncias, como o falecimento de um ente querido, são nos laços afetivos formados que encontramos o apoio para se viver o luto e seguir a estrada.
Para Luana Baldacini, 21, a morte de seu pai aplacou os momentos juntos de forma tão natural e espontânea, da plateia dele ao vê-la tocar violão, das piadas contadas à exaustão, da diversão. O sentimento da perda fica, a distância se torna real e o encontro é feito só nos pensamentos, de maneira individual. Essa é a forma que Luana encontrou de amenizar a dor, cativando as lembranças boas dos momentos vividos e fazendo coisas que remetessem a ele.
Quando os liames são verdadeiros, a distância pode até impedir um beijo e um abraço, mas nunca vai impedir os sentimentos. Para além da dor fica o sentimento de gratidão, os momentos vividos e os ensinamentos que a acompanharão por onde quer que vá.
Por vezes, a rotina do dia a dia, agitada, faz com que criemos vínculos com quem menos esperamos. Sabe aquele ditado, “quem não é visto não é lembrado”? Pois bem, ele caberia muito bem a Nayara Martins, 24, que encontrou no trabalho uma amiga completamente diferente dela. A amiga Natália era sempre falante, carismática, muito interativa, já Nayara era envergonhada e apenas cumprimentava os colegas. Elas tinham tudo para não serem amigas, mas foram as diferenças que as fizeram romper as barreiras e se tornarem tão próximas.
Nayara considera essa experiência única, não se lembra de ter vivido algo semelhante, e que não sabe explicar como se deu essa ligação tão espontânea. Hoje, porém, a distância e o tempo as afastaram, contudo elas mantêm um contato quase diário, com troca de mensagens. Tão logo seja possível encurtaram a distância que o tempo se encarrega de afastá-las, mas não de apagar essa amizade que se formou quando não se estava esperando por nada.
Mas fica o questionamento, o que nos une? Para a psicóloga Evanizia Maia, especialista em psicologia clínica, é uma questão de pertencimento. "Nós, humanos, temos necessidade de grupos e pessoas que nos aprovem, nos amem. Quando estabelecemos uma relação com alguém, essa pessoa passa a fazer parte de mim, de certa forma — não preciso estar em sua presença 24 horas”, afirma. A psicóloga enxerga que pensar nessa pessoa traz a memória deste pertencer à espécie humana, e é isso que traz a serenidade e a sensação de estar junto — dessa forma, os laços se tornam eternos no coração e na memória.
Perder-se em meio às demandas e só conseguir encontrar tempo para os amores e amigos entre as pequenas brechas de luz dos postes acesos à noite faz parte da tentativa de darmos respiro aos afetos e a nós mesmos. Estamos sempre em conexão com as coisas e pessoas ao nosso redor, independentemente de quaisquer distâncias — físicas ou não. Assim são os laços. Assim somos nós.
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