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Em razão da fé

Por Guilherme Bolzan


Arte por Júlia Carvalho

Ao dizer “Eu não quero acreditar, quero saber”, o cientista Carl Sagan mostra a oposição entre razão e crença na sua cabeça. Mas o mesmo não acontece com pessoas que buscam respostas além da ciência, seja em religiões ou na astrologia, numerologia e tarot.


O sociólogo Amaro Braga explica que a crença surge como uma maneira de dar respostas e curar angústias, ao mesmo tempo, criava comunidades e costumes para permitir a sobrevivência do grupo: acreditar era saber. Porém, com o desenvolvimento técnico-científico, a crença passou a exercer outra função na cabeça dos adeptos: “As religiões passam por um processo de racionalização — se apropriam da ciência para continuar seu trabalho'', afirma ele.


Esse processo pode ser observado no espiritismo, discute Marta Antunes Moura, vice-presidente da Federação Espírita Brasileira. Sua “fé raciocinada” promove que os adeptos o vejam não como uma doutrina inflexível, mas como um conhecimento que estuda vidas passadas e, através delas, encontra as causas do sofrimento humano, como dificuldades financeiras ou familiares, e as alivia.


Outras crenças, como a numerologia e astrologia, também passam pela racionalização. “Existe um misticismo por trás, mas minha relação com ela é mais como uma ciência: eu consigo definir e ler o ser humano”, afirma a professora e numeróloga Nanni Ribeiro. Já para Mara Castro, professora-chefe da Escola de Astrologia de Brasília, seu estudo não se encaixa no molde atual de ciência, como astronomia. Ainda assim, “são métodos distintos que muito mais se complementam do que divergem”. A diferença é na abordagem: “A astrologia busca o sentido nas decisões, de forma que as deixam tranquilas”, explica ela.


Nesse sentido, outra adaptação é a da função social da crença, que deixa de ser “prover a verdade”, para se tornar uma terapia espiritual, explica Amaro Braga. Mesmo presente em muitas crenças, o numerólogo e motivador pessoal Danilo Sena a destaca em seu campo: “Ele ensina a pessoa a encontrar a si mesma”. Diferente das ciências, esses conhecimentos são individualizados, o que os torna ainda mais atrativos.


Por mais que pareça contraditório, o impulso por trás de saber e acreditar, mencionado por Sagan, é o mesmo — ainda que com métodos e resultados muito diferentes. “A gente está em uma era em que tudo é registrado, mas ninguém consegue saber se ele vai ligar no fim de semana”, afirma o professor-fundador de uma escola e comunidade de tarot, Wayner Lyra. Para ele, mesmo diante de um mundo tecnológico e científico, as pessoas ainda têm uma atração pelo que está além da razão — e é aí que essas crenças encontram seu espaço na nossa cabeça. Mas… será que ele liga mesmo?




Colaboraram:

Amaro Braga, doutor em sociologia pela UFPE, antropólogo pela UFAL e professor na nesta instituição, onde pesquisa Religião Comparada.

Constantino K. Riemma, pesquisador e administrador do Clube do Tarô.

Danilo Sena, numerólogo cabalístico e motivador.

Mara Castro, psicóloga, psicoterapeuta e professora-chefe da Escola de Astrologia de Brasília.

Marta Antunes de Moura, vice-presidente da Federação Espírita Brasileira.

Max Lamdscek, numerólogo e professor de numerologia.

Nanni Ribeiro, numeróloga e professora de numerologia.

Wayner Lyra, tarólogo, professor de tarot e fundador da escola e comunidade de tarot Aurora do Tarot.


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