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Basta imaginar

Por Júlia Carvalho e Mariana Catacci

Arte por Danilo Moliterno e Gabriella Sales

No jardim, todos viram exploradores. A piscina se torna o Reino das Sereias. Em casa, cada objeto é uma pista para agentes secretos. No mundo das crianças, qualquer coisa é uma aventura. O chão pode virar lava e, na calçada, perde ponto se pisar nas rachaduras. Uma simples caixa de papelão pode ser carro, mural, cama ou foguete, depende da vontade do dia.



Brincar, além de divertido, permite que a criança mergulhe em contextos diversos e entenda outras perspectivas. A pediatra Renata Sacaloski explica que cenários mirabolantes podem ajudar na construção da autonomia e na integração social. Imaginar é uma das ferramentas das crianças para entender o mundo e construir repertório cultural. Brincar de casinha ou de “mamãe e bebê” é um espaço lúdico livre para experimentar, imitando a realidade.


Objetos cotidianos também fazem parte da brincadeira. Uma toalha pode ser a capa de um super-herói, uma vassoura pode virar um cavalinho e até voar. Para imaginar, é preciso pensar sobre a situação, explica a pedagoga Gislaine Gobbo. Ao abstrair o contexto real e viajar para o mundo da imaginação, a criança precisa entender as funções sociais das coisas, compreender para que elas servem.


Se equilibrando na calçada, vestido de dinossauro, Samuel consegue ter uma boa visão de seus inimigos: as formigas. Em um só salto, se agacha para caçá-las com o dedo indicador. O mesmo dedo que segura a mão da mãe, Giovana, no passeio pelo condomínio. Ela já vê diferença no desenvolvimento do filho, que tem liberdade para explorar, e acha importante que ele conheça seus próprios limites.



Gislaine explica que esse primeiro contato com o mundo é essencial para que a imaginação seja desenvolvida. A criança primeiro aprende sobre o universo dela, a relacionar-se com o mundo, e depois a imaginar. Mas quando tudo deixa de ser tão fascinante?


Segundo Renata, o adulto nunca perde a capacidade de imaginar. Ela fica guardada, como um brinquedo antigo da infância. Quando um adulto brinca com uma criança, por exemplo, ele consegue buscar esse velho conhecido e imaginar coisas fantásticas.


Às vezes, essa capacidade da infância se torna uma companheira fiel dos adultos. O pequeno Mauricio passava horas na janela de casa, vendo a boiada passar e segurando o chifre dos bois. Já adulto, ele sente que a criatividade da infância contribui em seu trabalho como quadrinista e pai da Turma da Mônica.



O contato com experiências que estimulem a imaginação durante a infância é fundamental para que, na fase adulta, sejamos capazes de criar algo novo. Recheado de gibis, de sereias, ou de animais fascinantes, um universo infantil rico influencia diretamente a formação das crianças. E permite que, quando adultas, sigam imaginando, seja nas páginas das revistas em quadrinho ou diante de uma simples caixa de papelão.


 

Colaboraram:

Edson Kemper, pai de sete filhos, de idades variadas Giovana Schneider, mãe do Samuel, de um ano e sete meses

Gislaine Gobbo, pedagoga e doutora em Educação pela UNESP

Laura Campos, publicitária

Renata Sacaloski, pediatra com especialização em Pediatria Social e Pediatria do desenvolvimento e comportamento pela UNIFESP

Mauricio de Sousa, quadrinista e criador da Turma da Mônica


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